sábado, 17 de setembro de 2016

CAJU...


O Cultivo do caju


fonte:http://www.clubeamigosdocampo.com.br/artigo/o-cultivo-do-caju-1259

O cajueiro é uma planta originária do Brasil e que vem ganhando destaque não só nacionalmente, mas também por todo o mundo devido à sua castanha e ao suco extraído do pedúnculo do fruto. Apesar de ter seu centro de origem no Brasil fica com a posição de quinto maior produtor de caju, atrás da Costa do Marfim, Índia, Nigéria e Vietnã.

Nacionalmente, a produção concentra-se na região nordeste, sendo responsável por 95% da produção no país. O caju tem grande importância social na região, pois além de gerar empregos diretos no campo, ainda mantém essa mão de obra no campo durante a entressafra de outras culturas como milho feijão e algodão.


A cajucultura vem passando por um momento crítico, pois ainda há exploração extrativista em algumas regiões e o uso de tecnologias agronômicas ainda é pouco utilizado, resultando em baixa produtividade com cerca de 390 kg de castanha de caju comum por hectare em 2011. Comparado ao Vietnã, maior produtor mundial, a produtividade brasileira é muito baixa, sendo que em 2007 obtiveram produtidade de 2.705 kg/ha.


Ao iniciar a produção de caju deve-se avaliar aspectos como clima, solo e adubação exigidos pela cultura; além da escolha correta da cultivar; fazer o plantio corretamente, usar irrigação quando necessário e também realizar os tratos culturais nas épocas certas.


Em relação ao clima, o cajueiro deve ser instalado em regiões onde a precipitação pluvial seja entre 800 e 1600 mm/anual, concentrada entre cinco e sete meses. A região deve ter umidade relativa do ar entre 70 e 80%, e temperaturas elevadas, sendo a ideal em torno de 27°C. Um fator importante a ser considerado é a presença de ventos fortes no local, se houver ocorrência frequente com velocidade superior a 7m/s, o cultivo deve ser evitado ou utilizado quebra ventos, para precaver a derrubada de flores e frutos jovens.


O cajueiro necessita de solos profundos, sem impedimento rochoso com menos de 150 cm de profundidade, o solo deve ser bem drenado, sendo mais recomendado os solos arenosos e franco arenosos que não sejam sujeitos a encharcamentos. Antes do plantio, é importante realizar uma análise de fertilidade do solo, pois solos com altos teores de alumínio e baixa CTC (capacidade de troca de cátions, que representa de forma figurada o reservatório de nutrientes do solo) são considerados inaptos para o plantio. O preparo do solo, quando necessário, deve ser feito nas faixas onde serão abertas as covas, deve-se aproveitar e realizar a incorporação do calcário nesta etapa, com cerca de 100 g de calcário dolomítico por cova.


Para o plantio de mudas em sacos plásticos, devem ser abertas covas de 40 x 40 x 40 cm para solos arenosos e 50 x 50 x 50 cm em solos franco arenosos, o arranjo espacial mais utilizado é de 7 x 7 m.


Junto à aplicação de calcário, deve ser feita a adubação de fundação, onde geralmente são utilizados superfostato simples, micronutrientes e esterco animal curtido. Essa adubação deve ser feita, necessariamente, um mês antes do plantio.


Após 60 dias do transplante da muda, recomenda-se fazer a adubação de primeiro ano. Se a cultura estiver sob sequeiro a aplicação pode ser divida em três parcelas iguais ao redor da planta; já em irrigação, a adubação pode ser aplicada via fertirrigação, podendo ser parcelada a dose mensalmente. Nos anos seguintes, o procedimento deve ser o mesmo, porém o nutriente fósforo não deve ser parcelado.


Tanto em cultivos irrigados, quanto em sequeiro, é importante que o solo esteja protegido com cobertura morta, pois dessa forma, será mantida a umidade do solo e reduzirá a temperatura e a infestação por plantas invasoras.


O uso da irrigação traz muitos benefícios como o aumento de produtividade, menores riscos a cultura em casos de falta de chuva, ampliação do período de colheita de quatro ou oito meses e melhora na qualidade de castanha e do pedúnculo. O tipo de irrigação mais indicado é a microirrigação (microaspersão ou gotejamento), que evita molhamento foliar reduzindo doenças e invação de plantas daninhas e ainda pode ser combinada com fertilização (fertirrigação).


Para microaspersão, o recomendado é uma vazão de 30 a 70L. ha-1 com diâmetro de molhamento de três a cinco metros. Já para o sistema de gotejamento, é indicado quatro gotejadores por planta quando o solo for mais argiloso e oito para arenosos, no entanto, para utilizar o gotejamento é importante que haja uma boa filtragem com a finalidade de evitar entupimento dos bicos microaspersores.


Em relação a cultivar é preciso avaliar a região que se deseja plantar, para escolher a mais adaptada às condições climáticas, baseada no tipo de cultivo, sequeiro ou irrigado. Deve-se ressaltar que a diversificação dos clones de caju é importante para se reduzir ataques de pragas e doenças, pois se não houver diversidade botânica no pomar, todas as plantas serão afetadas.


Após a escolha das cultivares, é preciso adquirir mudas de viveiros confiáveis e que apresentem garantia de sanidade. Muda enxertada é a melhor opção, pois garante um pomar mais vigoroso, uniforme, precoce e de alta produtividade. O plantio deve ser preferencialmente no início do período chuvoso, exceto para àreas irrigadas, onde pode ser feito em qualquer época do ano.


Como em qualquer outro plantio, a muda deve ser retirada cuidadosamente do saco plástico ou tubete, sem danificar as raízes, deve ser colocada na cova deixando o colo a 3 cm acima da superfície. Em seguida, faz-se o tutoramento das mudas, para orientar seu crescimento e evitar tombamentos.


Para o cajueiro, quando se deseja produzir de forma mais intensiva, pode-se utilizar a poda para facilitar alguns tratos culturais e a própria colheita. Aqui são considerados três tipos de poda, a de formação, manutenção e limpeza.

A poda de formação é realizada do primeiro até o quarto ano, essa técnica determina a forma ideal da planta. Deve proporcionar uma copa harmônica, simétrica e com iluminação bem distribuída. Essa poda deve eliminar ramos emitidos próximos ao solo e retirar ramos ladrão que brotem do porta-enxerto. A planta deve seguir em haste única até 0,5 m de altura, e em seguida deve ser formada três ou quatro pernadas. Essa poda também tem como finalidade, facilitar tratos culturais como, controle de plantas daninhas, aplicação de fertilizantes, irrigação e colheita. A frutificação deve ser permitida apenas no segundo ano, antes disso, os botões florais devem ser removidos para que a planta tenha um bom desenvolvimento vegetativo.

Nos demais anos realiza-se a poda de manutenção, que tem como função manter o máximo de ramos produtivos e eliminar aqueles que não produzem panículas (local onde ocorrerá a formação dos frutos).

Por fim, deve ser feita a poda de limpeza, que ocorre após a colheita com o intuito de eliminar ramos secos, caídos e quebrados. Após essa poda deve ser aplicado fungicidas cúpricos para evitar o aparecimento de doenças nos locais feridos. Os restos vegetais oriundos das podas devem ser retirados do pomar, para não servirem como fonte de pragas e doenças, mas não devem ser incinerados.

Outro manejo importante e que pode trazer muitos benefícios é a desbrota, que consiste em uma poda de formação que deve ser feita retirando-se as brotações laterais que se desenvolvem no porta-enxerto. Deve ser feita no primeiro ano e após o período chuvoso para que na época seca haja uma redução da área foliar, visando obter equilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular.


Quando se utilizam mudas enxertadas no plantio, especialmente de cajueiro anão, a emissão de panículas ocorre muito cedo, devendo ser removidas durante o primeiro ano, para que a energia produzida seja direcionada apenas para o crescimento vegetativo das plantas.


O controle de plantas daninhas, na área de cultivo, deve ser feito visando deixar o pomar, o maior tempo possível, livre de concorrência. Até o terceiro ano recomenda-se roçar as entrelinhas e fazer o coroamento ao redor da planta. Pode-se alinhar a roçadeira nas linhas de plantio, porém não deve ultrapassar oito centímetros de profundidade para evitar danos nas raízes. A partir do quinto ano, a necessidade de capinas reduz bastante, devido ao sombreamento produzido pela planta.


Após o quarto ou quinto ano de cultivo, o cajueiro apresenta um sombreamento que torna inviável a consorciação com outras culturas, sendo recomendada até o terceiro ano após o plantio. É indicado o plantio de feijão, sorgo, soja e amendoim, que possuem ciclo curto; devem ser plantados a um metro das linhas do caju. Para obter ainda uma renda adicional, pode-se combinar a produção de caju com a criação de abelhas, que além da produção de mel, garantirá uma melhor polinização do cajueiro.


Outro manejo importantíssimo é o controle de pragas. As que mais afetam o cajueiro são a broca-das-pontas, que abrem galerias nos ramos causando secamento em ramos e inflorescências; a traça das castanhas que destroem as amêndoas e deixam um orifício na parte externa; a pulga-das-inflorescências que ataca também os frutos jovens sugando sua seiva, ficando murchas e secas e favorecendo o aparecimento de fumagina (fungo); a lagarta verde causa total desfolhamento da planta; a coleobroca causa galerias no caule que vão se aprofundando cada vez mais, seu ataque é de cima para baixo de acordo com o secamento dos galhos; a lagarta-saia-justa reduz a área foliar e destrói inflorescências e brotações novas; o besouro vermelho também é desfolhador, sendo a larva mais voraz que o adulto e de ocorrência entre janeiro e abril; e por fim o díptero das folhas forma galhas, causando deformação da planta e redução da área foliar, preferindo folhas arroxeadas que são ricas em antocianina.


A doença que mais traz danos econômicos para a cultura é a Antracnose, sendo as demais doenças danosas do ponto de vista econômico, mas de importância secundária.


A antracnose ocorre em qualquer fase da planta, seus sintomas mais característicos são folhas com manchas pardo-avermelhadas e de formato irregular, já nas inflorescências ocorre a queima e queda das flores, nos ramos e frutos nota-se uma lesão necrótica e deprimida. A doença é causada por um fungo (Glomerella cingulata (Ston) Spauld & Schrenk), que está presente em todo o Nordeste, principal na região produtora de caju.




As condições favoráveis para o seu desenvolvimento são alta umidade e temperatura em torno de 25°C, geralmente na época chuvosa no nordeste brasileiro. Em épocas desfavoráveis o fungo sobrevive como saprófita em tecidos mortos, podendo ser disseminado para outras plantas. Sua dispersão pode ocorrer através do vento, chuvas, orvalhos, insetos e por mudas infectadas.


Recomenda-se o uso de biocontrole com a introdução de espécies de Trichoderma, que inibem o crescimento do patógeno. O controle químico deve ser feito com pulverizações na época de emissão folhas novas logo após as chuvas, durante a floração em intervalos quinzenais (três a quatro aplicações são suficientes). Outra medida de controle, mas auxiliar, é a poda de material doente e queima para que não sirva de fonte de inóculo. Em regiões muito propícias ao aparecimento da doença, é importante optar por variedades resistentes, reduzindo-se os custos com o controle.


Outras doenças importantes são o oídio, mancha de pestalotia, mancha de phomopsis, mofo preto, fumagina, mancha de alga, podridão de sclerotium, queima das mudas e bolor verde (doença que ataca após a colheita). Há registros também de doenças causadas por nematoides, as chamadas nematoses, que causam maiores danos em mudas de viveiro, por possuírem menor quantidade de sistema radicular do que uma planta adulta.

Recentemente, duas doenças vêm causando grandes problemas para os produtores. São elas, a resinose e a bacteriose do cajueiro.


A resinose é um grande problema no Semiárido nordestino, causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae, causa tombamento de plântulas, podridão da raiz, murcha, cancro, gomose, podridão de frutos e sementes, apodrecimento da madeira, entre outros. As perdas por essa doença se devem à redução da fotossíntese, bloqueio do transporte de seiva e redução do número de plantas no pomar.


Esse fungo é disseminado por diversos veículos, porém, o principal deles ocorre através de mudas infectadas. O ataque do patógeno é aumentado pela falta d’água e deficiência de cálcio. Para um controle eficiente, é recomendada a limpeza de instrumentos e destruição de partes infectadas. A aplicação de fungicidas a base de cobre se mostram pouco eficientes na redução do fungo. Já existem clones resistentes à doença.


No caso da bacteriose do cajueiro, a ocorrência foi registrada em 2003, além de lesões foliares, afeta também a castanha. Em castanhas e folhas o sintoma se mostra em manchas de coloração escura. Como controle, a poda de limpeza seguida de oxitetraciclina alternada com oxicloreto de cobre tem mostrado bons resultados.


Todo controle de pragas e doenças, não só em cajueiros, mas em qualquer outra cultura deve-se optar por práticas de manejo integrado, com avaliações constantes no pomar. Sempre que possível, priorizar o controle biológico para evitar contaminações do meio ambiente com produtos químicos.


Em relação aos cuidados do aplicador, sempre usar roupas e luvas adequadamente, não fazer aplicações em sentido contrário ao vento, proteger boca e o nariz e, ao final do trabalho, tomar banho e lavar as roupas e utensílios utilizados.


A colheita geralmente ocorre após 60 a 90 dias do florescimento. É realizada manualmente e deve ser feita preferencialmente no período da manhã, para a correta remoção do fruto, que deve receber uma leve torção para que o pedúnculo (parte suculenta) se solte do ramo. Se a remoção for difícil, muito provavelmente o fruto ainda não alcançou o ponto de maturidade fisiológica, ou seja, não está pronto para a colheita. Na prática, determina-se o ponto de colheita dos frutos baseado no seu tamanho, na textura firme e na coloração característica da cultivar.


Por ser uma colheita escalonada, onde só se retira os frutos que estão maduros, deve-se tomar muito cuidado para não ferir, nem derrubar flores e frutos jovens. Em cada colheita também pode-se fazer uma ‘limpeza’ nas plantas, retirando frutos deformados (alongados ou globosos demais) ou doentes, que não servirão para a colheita seguinte ou que possam servir de fonte de inóculo de doenças.


Logo após a colheita, porém na sombra, pode-se fazer uma seleção separando-se os cajus destinados à mesa e a indústria, fazendo o descastanhamento. A retirada é feita com o uso de fios de nailón, enlaçado no ponto de união entre o pedúnculo e a castanha.


Para que o produto chegue a mercados distantes é muito importante realizar a refrigeração dos pedúnculos, pois em condições ambiente não duram mais do que 48 horas, enquanto que em refrigeração a 5°C com 90% de umidade relativa, chegam a durar até quinze dias.


As castanhas devem ser secadas durante dois ou três dias, sendo reviradas todos os dias no terreiro. O empilhamento máximo das castanhas deve ser de 10 cm, e durante a secagem devem ser retiradas as castanhas chochas, furadas e enrugadas.

Alguns trabalhos mostram estimativas de produção de cajueiro-anão para cada ano, sob condições de sequeiro em um hectare de plantio, como pode ser observado na Tabela 2.


Por fim, utilizando-se técnicas agronômicas adequadas para a cultura e para cada região consegue-se obter produtividades cada vez maiores, e estender a colheita por alguns meses, garantindo ao produtor uma renda prolongada no ano.


Fontes consultadas


MENEZES, M. Doenças do cajueiro. In: Manual de fitopatologia. 3.ed. São Paulo. Agronômica Ceres. 1997. 2v.


MIRANDA, F.R. de; OLIVEIRA, V.H. de. Métodos de irrigação. In: Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/caju/arvore/CONT000fielotma02wyiv80z4s473q0ytck3.html > Acesso em: 20 fev. 2014.


OLIVEIRA, V.H. de. Cultivo do Cajueiro. In: Sistemas de produção, 1. Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza – CE. Jan. 2003. Disponível em: Acesso em 19 fev. 2014.


PESSOA, P.F.A. de P. et al. Análise da Viabilidade Econômica do Cultivo do Cajueiro Irrigado e Sob Sequeiro. In: Revista Econômica do Nordeste. Fortaleza, v.31. n.2, p. 178-187. Abr/jun, 2000. Disponível em: < http://www.ceinfo.cnpat.embrapa.br/arquivos/artigo_586.pdf > Acesso em: 7 mar. 2014.


Elaborado por

Casa do Produtor Rural

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP


Larissa Miori Degaspare

Graduanda em Engenharia Agronômica

Estagiária - Casa do Produtor Rural - ESALQ/USP


Acompanhamento técnico

Fabiana Marchi de Abreu

Engenheira Agrônoma

CREA 5061273747

Casa do Produtor Rural


Coordenação editorial

Marcela Matavelli

Agente de Comunicação

DRT 5421SP

Casa do Produtor Rural

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